A
fabricação da rapadura teve início no século XVI, nas Canárias, ilhas
espanholas do Oceano Atlântico. O produto foi exportado para toda a
América espanhola no século XVII, época de grande expansão açucareira.
A rapadura originou-se da raspagem das camadas (crostas) de açúcar que
ficavam presas às paredes dos tachos utilizados para fabricação de
açúcar. O mel resultante era aquecido e colocado em formas semelhante às
de tijolos.
No Brasil, os engenhos de
rapadura existem desde o século XVII, ou talvez antes. Há registro da
fabricação de rapadura, em 1633, na região do Cariri, Ceará.
Os engenhos de rapadura eram pequenos e rudimentares. Possuíam apenas a
moenda, a fábrica, onde ficavam as fornalhas, e as plantações de cana
que, normalmente, dividiam o espaço com outros tipos de cultura de
subsistência.
Os grandes engenhos também
fabricavam rapadura, mas não para fins comerciais. O produto era
utilizado apenas para consumo dos habitantes locais.
A cana usada para fabricar a rapadura no Brasil, até o século XIX, era
a crioula. Surgiu depois a caiana, mais resistente a pragas, aparecendo,
posteriormente, diversas variedades, como a cana rosa, fita, bambu,
carangola, cabocla, preta, entre outras.
No
início, as moendas eram de madeira, movidas a água (onde havia
abundância do líquido) ou tração animal (cavalos e bois). No século XIX,
surgiram as moendas de ferro, usando-se ainda o mesmo tipo de tração.
Depois os engenhos evoluíram passando a ser movidos a vapor, óleo diesel
e finalmente a eletricidade.
Por ter um
mercado reduzido, em comparação com o do açúcar, a produção tinha um
caráter regional, não sendo necessária a sofisticação exigida para
fabricar o açúcar que era exportado. Até hoje produz-se rapadura no
Brasil com métodos e técnicas rudimentares. Não houve a introdução de
inovações no processo produtivo nem diversificação de produtos. A grande
maioria dos engenhos continua produzindo rapadura em tabletes de 400g a
500g que são comercializados nas regiões próximas das áreas produtoras.
No Nordeste do Brasil,
os engenhos de rapadura em atividade são, na sua maioria, unidades
antigas, com vários anos de existência. Sua produção é sazonal, feita em
geral nos meses de julho a dezembro, ou seja, no período de estiagem no
Agreste e Sertão. Os Estados do Ceará, Pernambuco e Paraíba são os
maiores produtores, existindo também produção significativa nos Estados
do Piauí, Alagoas e Bahia.
No Ceará,
destacam-se as regiões do Cariri e da Serra do Ibiapaba. Em Pernambuco,
os engenhos de rapadura se concentram no Sertão, sendo os municípios de
Triunfo e Santa Cruz da Baixa Verde os maiores produtores. Na Paraíba,
os dois grandes pólos são a região do Brejo e o Sertão.
Segundo Câmara Cascudo, a rapadura foi o doce das crianças pobres, dos homens simples, regalo para escravos,cangaceiros, vaqueiros e soldados.
A rapadura está presente na mesa do sertanejo. É o adoçante do café, do
leite, da coalhada. É consumida com farinha, mungunzá, carne de sol,
paçoca, cuscuz, milho cozido. Não há casa sertaneja sem farinha e
rapadura.
Os curandeiros também a usavam como
adoçante do leite de cabra para os "fracos-do-peito", bebido de manhã
cedo; misturado com mastruz esmagado e azeite quente, para curar úlceras
e frieiras, além de considerá-la fortificante.
O consumo da rapadura manteve-se no Nordeste, mesmo tendo que enfrentar
a concorrência do açúcar e de outros adoçantes, principalmente nas
regiões semi-áridas, porém é um mercado hoje em declínio. Nas cidades de
grande porte da região a rapadura é comercializada, principalmente, nas
feiras livres e em menor escala em grandes cadeias de supermercados.
São Paulo tornou-se também um consumidor que merece destaque, devido aos
migrantes nordestinos.
A rapadura vem sendo
introduzida, ultimamente, na merenda escolar de vários municípios, e nas
cestas básicas distribuídas às famílias pobres pelo Governo.
O consumo da rapadura no Brasil é de 1kg por habitante/ano. O maior
consumidor mundial é a Colômbia, com a marca de 25kg por habitante/ano,
além de ser também o primeiro país produtor de rapadura na América e o
segundo do mundo depois da Índia.
FONTE: Fundação Joaquim Nabuco
postado por Tony José sexta-feira,23 de novembro de 2012